sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Até que a morte os separe (creepy thing)


Eu nunca pensei muito sobre casamento.

Eu tive uma educação curiosa, ao mesmo tempo em que foi extremamente machista, parte desse machismo incluiu o não incentivo a minha feminilidade. Meus pais sempre me desincentivaram a usar saia e maquiagem, eu nunca aprendi a andar de salto e não tive muita convivência com crianças. Eu sempre fui proibida de namorar e casar era uma ideia que, durante muito tempo, eu simplesmente rejeitava. Coisinhas românticas ainda é algo que me traz muito mais rolar de olhos impacientes do que suspiros.

Com o tempo e, principalmente, depois que eu saí da casa dos meus pais, tudo isso mudou. Ultimamente eu tenho pensado muito sobre ter filhos e eu tenho um medo absurdo disso (mas não é meu foco nesse post). E, ainda que eu não tenha namorado ou pretendente ou sequer um amigo próximo para a fazer a promessa clássica de que, se ainda estivermos solteiros aos 40, vamos nos casar, eu ainda assim ando pensando muito sobre casamento.

Ter ido em duas festas de casamento no último mês e ter mais duas esse ano para ir talvez seja um dos motivos que me levam a isso. Coisas românticas têm me deixado menos irritada e mais com aquele gostinho de querer um pouco disso também - eu culpo um pouco fanfiction por isso, com todas aquelas histórias cheias de angst e pouco conto de fadas em que a felicidade tem gosto meio amargo no fim, mas ainda é feliz, o que faz cada gesto valioso. 

Ainda assim, eu não tenho muitos exemplos de casais felizes fora da ficção. Claro, eu conheço pessoas que estão casadas para sempre, mas eu sei muito pouco do dia a dia delas para acreditar que isso possa ser um felizes para sempre também. Meus pais são um exemplo do quanto isso pode ser enganoso. Pelo meu convívio com eles, eu sei que o casamento em si praticamente não existe mais em muitos aspectos além do simplesmente conviver - e sequer há companheirismo nessa convivência. E, no entanto, eles ainda são os conselheiros matrimoniais de muitos dos meus primos porque são considerados um casal que deu certo por simplesmente não terem se separado.

Eu decidi que eu simplesmente preciso mais do que isso. Principalmente porque, morando sozinha há nove anos, eu estou definitivamente sentindo falta de alguém para dividir aspectos da minha vida que não podem ser supridos por família ou amigos - eu sinto falta de um companheiro. E, apesar dessa necessidade crescente, eu não sei exatamente o que esperar dessa pessoa, e o fato de que eu nunca tive um relacionamento que durasse mais do que uma noite não ajuda em nada em criar expectativas quando eu tento me visualizar, entre o que eu quero e o que eu conseguiria administrar, em um casamento.

Eu tenho três histórias de amor na ficção que me inspiraram a deixar esse desejo por casar crescer. A primeira é a de Severus Snape e Lily Evans em Harry Potter. É um casal que não aconteceu. É a história de um amor eterno e idealizado que termina em tragédia e uma dor amarga para sempre. Mas o que em fascina nessa história é a persistência da ideia da pessoa amada, o quanto saber que o outro está vivo e bem ou que seu legado está preservado em sua memória pode ser simplesmente forte o suficiente para manter toda uma leva de admiração, contemplação e querer vivos. É o amar sem a necessidade de ser amado de volta, o que, apesar de triste e incompleto, é forte. E, como eu considero que a base para o amor é o reconhecimento do outro, a admiração por cada gesto, por cada atitude, por cada detalhe, essa história de amor é muito significativa para mim.

Esse reconhecimento é também a base que me faz admirar minha segunda história: a de Spencer Reid e Maeve em Criminal Minds. Outra história que não acontece. Outra história triste e trágica. Eles se apaixonam por afinidade intelectual, sem se conhecer, sem se ver, sem se tocar, e é um amor tão grande que ele está disposto a se sacrificar e sacrificar tudo o que eles construiram pela vida dela no final. E, ironicamente, é essa disposição dele que causa a morte dela, o fato de que ele a ama completa e intensamente. Novamente, eu percebo o grande grau de idealização que existe aí, mas também essa capacidade de ver e admirar o outro e, nesse caso, se permitir ser visto e admirado da mesma forma. E o sentimento criado a partir desse reconhecimento é tão forte que não se dissipa, nunca. Eu sou creepy e essa é a ideia do para sempre de que eu mais gosto, ok?

O "para sempre" também está presente na minha terceira história de uma forma quase latente: Rory Willians e Amelia Pond em Doctor Who. É engraçado porque, com uma história de amor não linear e montada a partir de viagens pelo tempo e pelo espaço, essa noção de "para sempre" é, ao mesmo tempo, paralela à história dele e perdida no seu desenvolvimento. Eles se conhecem desde... sempre, mas é a filha dos dois, que voltou no tempo e cresceu como amiga dos pais, que faz com que eles se percebam como casal. Eles se casam com desconfiança e muitos poréns, eles têm uma filha sem nenhum planejamento e sem a realização de família imediata, eles vivem juntos, eles convivem, eles estão casados entre a aventura e o dia a dia, eles se irritam um com o outro, brigam e se separam, eles esperam eternamente um pelo outro, eles abrem mão do outro em prol de uma felicidade que só é alcançada quando estão juntos. Eles abrem mão de tudo para ficarem juntos.

Não é um conto de fadas, não é uma tragédia idealizada para mostrar a eternidade do amor, é ficção, mas é uma ficção tão absurdamente verossímil nas nuances do casamento que é aquilo que, talvez, eu olhe e mais deseje para a minha vida: alguém que simplesmente queira ficar comigo, não importa o que aconteça, porque eu quero ficar com ele e estamos melhor juntos. Essa noção de que um conhece o outro pelo que é, de que um reconhece e admira o outro em suas nuances mais íntimas, e ainda assim tudo o que deseja é estar junto com essa pessoa porque é isso que o faz feliz - esse eu acho que é o maior compromisso que o casamento pode significar. O estar ali para sempre, para a outra pessoa, porque é isso que faz a sua vida mais completa.

Eu não sei se isso é casamento como as pessoas casadas sabem que é ou não. Não sei se isso é romântico ou idealizado ou possível. Mas é o que eu quero e é o que eu vou buscar em uma pessoa para um dia, quem sabe, me casar.

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