sábado, 21 de abril de 2012

Fechando Ciclos

"É o que as pessoas dizem:
que o tempo muda tudo.
Não é verdade.
Fazer coisas é o que muda algo.
Não fazer nada deixa as coisas do jeito que eram."
Dr. House

Eu postei essa frase hoje mais cedo no facebook. Eu concordo plenamente com ela, por isso postei, mas quando eu postei essa frase eu não tinha ideia do quanto eu concordo com ela. Aí alguma coisa aconteceu e provocou uma mudança, e eu me dei conta do quanto tudo mudou.

Há sete anos atrás, em fevereiro de 2005, eu havia acabado de passar no vestibular, eu estava com 18 anos, saindo da casa dos meus pais para morar sozinha em uma cidade em que eu não conhecia ninguém além de uma tia distante. Eu estava respirando fundo para começar um novo estágio da minha vida em que eu pensava que tudo iria mudar.

No começo, foi meio decepcionante. Eu queria tanto que a forma como as pessoas me viam mudasse, que a minha forma de me relacionar com os outros mudasse, que a minha vida em seus detalhes e ritmo e problemas e soluções mudasse que eu demorei para perceber que para que tudo isso mudasse EU tinha que mudar. Bem, eu mudei. De uma forma lenta, mas determinante. 

Bauru me fez adulta de uma forma que vai além de pagar as próprias contas e cuidar do próprio nariz. Eu fiquei sozinha e tive que aprender a lidar comigo mesma, a me conhecer e a gostar de mim. Eu tive que aprender a conquistar as coisas de que eu precisava e a lidar com os mais diversos tipos de pessoas para conseguir isso. Eu me machuquei de inúmeras formas diferentes e Bauru me fez dura e me fez me descobrir todas as minhas fragilidades ao mesmo tempo. Bauru me ensinou a ser profissional, a ser amiga e a ser mulher.

Bauru foi o lugar onde eu descobri que minha casa não era mais São Paulo, mas eu também sempre soube que minha casa não seria aqui. Desde dezembro do ano passado eu venho namorando a ideia, cada vez mais concreta, de que eu deixaria Bauru em 2012 ainda. Inicialmente em dezembro, depois em setembro, agora parece ser agosto, mas a data definitiva só devo ter em junho ou julho. Mas eu vou me mudar, vou para um outro lugar, com uma outra vida e talvez um outro eu me esperando lá. E deixar Bauru não é difícil, é mais difícil deixar a Unesp ou simplesmente mudar, porque mudar é muito difícil.

E aí, neste momento em que eu estou tentando me acostumar com a ideia de mudança de local e de vida, eu encontro uma coisa que eu desejei fortemente desde o primeiro momento em que me vi livre em Bauru, mas que ela se recusou a me dar nesses 7 anos: alguém de quem eu estava gostando e que gostava de mim.

Desde o momento que essa consciência se fez, eu coloquei sobre ela o fato de que nada iria acontecer porque eu estava fazendo as malas para ir embora daqui, eu não iria mudar meus planos por ninguém e certamente essa pessoa não iria me acompanhar em tão pouco tempo. Talvez, se não houvesse essa pedra, eu teria vivido isso de uma forma muito mais intensa e desesperada. Talvez desesperada o suficiente para não viver e me negar isso como eu me neguei tantas outras coisas por ter me tornado adulta demais ou dura demais em meio a essas mudanças. Mas, de certa forma, a certeza de que não aconteceria me permitiu aproveitar enquanto durou. E acabou, como eu sabia que acabaria mais cedo ou mais tarde desde o começo.

E agora eu paro para pensar no que foi isso, e foi algo tão rápido, tão sutil e tão tenso que eu quase não consigo acreditar no quão importante foi para mim. Essa pessoa era tudo o que Bauru não era, ela resgatou uma parte de mim que eu esqueci que existia no processo de me tornar adulta, um quê de adolescência, de vestibular, de rock'n'roll, de inocência e de doçura a que eu simplesmente não estava mais acostumada ou simplesmente não me lembrava mais do quanto eu gostava disso tudo.

Foi um resgate de quem eu era antes de vir para Bauru no momento em que eu estou deixando Bauru. Em nenhum momento houve a nostalgia de voltar a ser adolescente, mas houve a percepção do quanto de juvenil eu ainda tenho e do quanto eu envelheci nestes 7 anos. Foi a percepção do quanto sobrou no que eu sou hoje do que eu era quando cheguei aqui, do quanto eu não neguei ou perdi pelo caminho.

Eu me sinto fechando um elo. Unindo aquilo que eu era antes de chegar aqui com aquilo que eu sou no momento em que deixo esse lugar para começar algo novo. Eu me sinto completa como eu nunca me senti em toda a minha vida. Eu tenho uma consciência imensa de todas as feridas abertas que estou levando comigo de Bauru, mas pela primeira vez na minha vida eu não me sinto levando nenhum arrependimento.

Ainda faltam alguns meses até que eu mude, e muita coisa pode acontecer nesse tempo que venha a mudar tudo novamente, mas Bauru, este lugar e este momento e esta pessoa que surgiu dela, está se configurando como uma etapa concluída para mim a partir de agora.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

I like you


Eu estou gostando de alguém, e isso é estranho em tantos níveis que precisei vir aqui pensar um pouco.

Eu não sou muito crédula com essa coisa de paixão e amor e primeira vista e zamos morrer juntos porque meu mundo é você. Em geral isso me embrulha o estômago e/ou me faz rolar os olhos e/ou me dá crise de risos, apesar de eu tentar ao máximo não ter esse tipo de reação perto das pessoas queridas e apaixonadas.

E você que lê esse blog com frequência acaba de ficar com uma cara de MAS Q gigante porque, afinal, eu passo boa parte dos meus posts dizendo sobre o quanto eu queria alguém que gostasse de mim e alguém para ser companheiro e me fazer feliz e panz. Como, afinal, se eu nem acredito nisso, não é mesmo? Pois é, eu disse que é estranho. 

Mas, assim, eu acredito que as pessoas em geral precisam dividir suas vidas com alguém em que elas confiem e se sintam bem por ter sempre junto a elas. E, como eu me encaixo na categoria pessoas, eu sinto falta de alguém assim. Eu só não acredito muito na dinâmica do processo que leva duas pessoas a isso. Essa coisa mágica de olhar para alguém e querer conversar para sempre com ele/ela sem saber direito o que dizer e colocar em um potinho na estante só para ficar olhando sendo que há quase pânico misturado com ansiedade na ideia de tocar a outra pessoa.

Eu nunca me apaixonei. Eu nunca gostei de alguém com esse nível de ansiedade e sem jeito de agir. Com toda essa ciência da pessoa como um todo e todo esse querer o outro das mais diversas formas. E eu posso rir dos seres patéticos aí pelo mundo, mas eu desejei isso. E, mesmo por nunca ter sentido nada assim, eu não sei dizer se estou apaixonada no conceito intrínseco da palavra (seja lá qual for), mas o que eu estou sentindo agora é bem legal.

Porque eu estou gostando de alguém, e isso é muito estranho, porque quando eu paro para pensar em tudo o que eu sei sobre essa pessoa e analiso toda a situação e contexto, tem tantas coisas erradas que eu simplesmente não consigo entender o porquê eu gosto dele, isso não deveria estar acontecendo. E aí eu começo a rir pateticamente porque, olha só que coisa, acabo de perder mais uma hora sem perceber só pensando em tudo o que me faz gostar dele.

E o engraçado é que não sou só eu nessa situação. Meu melhor amigo também está em um inferno astral por gostar de alguém que racionalmente não deveria e uma grande amiga passou dois dias comigo sem conseguir parar de falar um momento na pessoa de quem ela não entende porquê se dá ao trabalho de tentar ficar junto. E, claro, eu ando rindo ironicamente lembrando do momento em que eu conheci o ex da minha melhor amiga e meu comentário foi "Eu esperava mais dele." porque eu simplesmente não conseguia entender como diabos eles ficavam juntos.

Eu sinceramente não consigo entender o que leva uma pessoa a gostar de outra. Eu gosto de pessoas, eu trabalho com pessoas, eu me orgulho de ter uma certa habilidade de ler e entender pessoas, de conseguir me aproximar de pessoas, e eu desejo a companhia de pessoas, essa proximidade e essa troca. Mas gostar de alguém me surpreendeu, não porque eu não esperava gostar de uma pessoa (eu ansiei muito por isso), mas sim porque quando eu me dei conta de quem era e do quanto eu já estava gostando, eu não vi lógica.

E eu poderia encher esse post de frases clichês que eu ouvi minha vida inteira como "o amor não tem lógica" e "você não pode controlar gostar de alguém" e "você não escolhe quem vai amar" e concluir que, olha só, é mesmo, no fim eu quebrei a cara. E ai vem o fato de que eu acho isso patético. Eu não vou negar o que eu estou sentindo em prol de um racionalismo ou uma crença ou o que for, mas me recuso a fazer disso algo pleno e absoluto na minha vida - ainda que eu tenha gastado um tempo gigantesco pensando sobre o tema e, obviamente, a pessoa que me levou a isso. E me recuso a dizer que estou amando ou apaixonada porque, bem, eu ainda espero mais disso, então mesmo se eu já estiver, eu me permito reformular esses conceitos para o que eles significam para mim. O sentimento é meu, eu chamo ele do que eu quiser.

Eu sempre tive a consciência de que gostar de alguém de forma plena e completa seria gostar de tudo o que a pessoa tem de bom e de ruim, mas também acreditava que isso de ter que rever conceitos e valores e ações que me nortearam toda a vida só porque alguém cruzou meu caminho e piscou para mim e eu gostei fosse coisa de novela - e eu detesto novela. E então eu percebi que gostar de alguém é infinitamente mais complexo do que eu jamais ousei imaginar. 

Passa, sim, pelo racional - e isso pode ser uma característica minha, mas consequentemente vai ser de quem gostar de mim também, pela força que tem para mim -, mas é um sentimento, acima de tudo, e isso pode soar redundante, mas sentimentos não são racionais e toda a minha dificuldade neste momento está sendo traduzir isso, porque enquanto uma parte de mim disser que eu estou sendo patética por gostar dele, eu não vou conseguir sentir isso de forma completa e não vou conseguir gostar dele por tudo o que ele realmente é. E eu sei que ele merece mais do que alguém que não sabe o que sente. E eu sei que eu mereço viver isso, seja lá o que for.

Mas por que, afinal, eu estou gostando dele?

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