sexta-feira, 2 de março de 2012

Toda Sarah é princesa



Eu ando ficando muito tempo em casa. Muito trabalho para fazer, processo de finalização do mestrado, todos os amigos morando longe, pouco dinheiro no bolso. Mas isso anda me deixando um pouco tensa. Passar dias sem ver ninguém de carne e osso além do meu vizinho pela janela ou sem falar com ninguém a não ser por telefone ou msn é, de uma certa forma estranha, desgastante. Eu não consigo explicar, mas acredito que seja algo fácil de entender esse stress por falta de convivência e sociabilização.

Além disso tudo, trabalhar em casa pode ser muito confortável, mas, principalmente para mim que moro sozinha, às vezes te faz esquecer coisas simples, como por exemplo o quão importante é tirar o pijama e que pentear o cabelo é algo legal, mesmo que você se descabele na frente do computador algum tempo depois.

Semana que vem eu volto a dar aulas e estou esperando ansiosamente por isso, pelo trabalho, pelo dinheiro e por sair de casa para fazer alguma coisa, mesmo que seja trabalhar. Ter um compromisso com alguém além de mim mesma, ver e conversar com pessoas diferentes. O máximo de compromisso que eu tenho hoje é ir à psicóloga uma vez por semana para falar principalmente sobre o quanto eu me sinto sozinha, entre outras coisas.

Hoje eu acordei inspirada. Coloquei um vestido de que eu gosto bastante e me deixa confortável, arrumei o cabelo de um jeito especial que aprendi a dar no corte novo, um tom meio retrô e bonequinha, bom de se usar com tiara. Me maquiei, tentei novas cores e uma técnica que vi nessa semana na internet que estava louca para usar, e coloquei sandálias, coisa que é raro eu usar. Estava me sentindo muito bem e bonita. E quando minha vizinha me viu saindo e comentou que hoje eu arrumaria um namorado, eu sorri, mas fiquei um pouco triste, porque me produzi toda para ir ao lugar menos provável de se arrumar um namorado. Bem que eu pensei em ir ao cinema depois da consulta ou a uma balada de noite, mas o fim do mês não me permite.

Estava chovendo. Eu disse para mim mesma, para meu vestido, minha maquiagem e minha sandália, que isso não seria um problema e saí. Mas estava chovendo muito e eu não cheguei nem na esquina sem que meu guarda chuva virasse do avesso e eu acabasse molhada. Estava atrasada para pegar o ônibus e, naquele passo, era certo que eu não ia conseguir. Voltei para casa, me sequei e chamei um táxi.

Obviamente eu não tinha dinheiro para o táxi. Chamei um taxista amigo, que vive me dando desconto e algumas cantadas, e aceita cartão. Eu não curto muito as cantadas, mas os descontos são bons e era a única forma de eu chegar a tempo na consulta a essa altura do campeonato. Pedi para ele passar em casa meia hora antes. Dez minutos antes ele não havia chegado. Eu liguei para ele, ele não poderia vir, e não se preocupou em me avisar com antecedência. Eu liguei para outro taxista, mas quando perguntei se ele aceitava cartão, ele riu no telefone, então simplesmente liguei para a psicologa e disse que não poderia ir hoje. O fato de que vou ter que pagar pela consulta mesmo assim me deixou meio puta com o mundo.

Sarah é um nome de origem bíblica que significa A Soberana, ou simplesmente Princesa. Quando eu era pequena, adorava andar por aí segurando as pontas da saia e saltitando e meus pais reclamam até hoje sobre a minha capacidade de ser fresca com certas coisas. Eu gosto do meu nome. Sei que não sou nenhuma princesa, ou ao menos não me entregaram meu reino e meu príncipe ainda, mas acredito que tem muito de ser Sarah em mim em dias como esse.

E, no entanto, o dia terminou, e eu nem consegui sair da minha abóbora.

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