domingo, 11 de março de 2012

Não está valendo a pena

Essa postagem não tem imagem porque a melhor imagem que eu consegui pensar pra ela foi aquela cena de Titanic da Rose do lado de fora do navio e o Jack "se você pula, eu pulo". E, tipo, não.

Eu estava me sentindo sozinha. Isso basicamente todo mundo que lê o que eu posto aqui já sabe, 90% do que me leva a postar é estar no limite de certa forma e o principal fator que me leva a limites é me sentir sozinha. Mas, enfim, hoje eu estou me sentindo muito sozinha a ponto de estar deitada tentando dormir e começar a chorar, chorar de soluçar, e milhões de pensamentos, que iam do trânsito de São Paulo a Titanic e concluir que não vale a pena. Não está valendo a pena, simples assim. E eu vim escrever, porque eu preciso organizar e entender isso, simplesmente porque não é algo bom de se sentir.

Outro dia, nos dias de carnaval, eu estava em São Paulo, presa em um trânsito infernal na entrada da cidade, meio impaciente porque eu já tinha enfrentado mais de 4h de viagem e tudo o que eu queria era simplesmente chegar a algum lugar. Como o dom da ansiedade é te impedir de fazer qualquer coisa que te distraia do que te deixa ansioso, eu fiquei prestando atenção no trânsito. Na quantidade imensa de pessoas que estava ali, acumuladas naquele trecho de rua, querendo e ansiando fervorosamente pela mesma coisa, como uma imensa entidade formada por várias partes distintas que simplesmente não tinham consciência umas das outras.

Foi meio revelador, sério. Mas foi exatamente isso: a consciência do todo humano. De que, puta merda, olha quantas pessoas tem nesse mundo! E elas vivem e se trombam e trabalham em função umas das outras, e se cuidam e se amam e fazem o mundo funcionar pensando em fazer coisas boas para pessoas de quem gostam ou para si mesmas. TUDO acontece a partir, em torno e para pessoas. E elas não se percebem, não se tocam, não se veem, simplesmente fazem parte do seu quadrado, sem a dimensão exata do que isso significa.

Tanta gente no mundo, e eu ali me sentindo sozinha. E não é por falta de gente no meu quadrado. Eu tenho amigos. Tenho amigos no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Recife, em Holambra, até em Bauru. Mas não tenho amigos para ligar de madrugada ou para ir ao cinema ou mesmo para quem eu possa preparar um almoço e chamar para tomar um vinho ou um café e falar um pouco sobre como eu me sinto bem com eles ou o que eu acho de Titanic ou sobre como a questão do bulling é tratada em Glee e como isso me afetou imensamente nessa semana. Ou mostrar meu vestido novo.

Não é que eu precise de alguém para mostrar meu vestido novo para ser feliz. Mas quando a coisa que te deixa mais feliz em toda a maldita semana é o vestido que você mal consegue pagar, é meio frustrante, sabe? Você pára e fica se perguntando o que realmente isso significa, pois, apesar do vestido ser lindo e você se sentir muito bem nele, é só um vestido. É só um trecho de um livro. É só uma cor nova nas suas unhas. É só um fim de série dramático que te faz chorar feliz.

Séries bobas tem me feito chorar. Comédias românticas bobas já me fazem chorar há anos, tanto que eu não assisto mais, mas quando um episódio de New Girl me fez chorar, eu achei a gota d'agua. Por que de repente tudo o que eu assisto inclui um grupo de amigos legais que, mesmo quando ta tudo indo por água abaixo, fazem a situação menos pior? Sim, eu sei que é pelo motivo que eu achei no trânsito e panz.

Quando eu parei de assistir comédias românticas porque eu queria um namorado e não tinha - naõ tenho -, eu lembro que tive uma longa e alien conversa com minha madrinha sobre o ideal de amor ser uma criação da indústria cultural e não existir de verdade. Eu conclui que eu preciso acreditar que existe, pelo bem da minha pele, mas hoje eu me vi questionando se grupos de amigos legais também não são criação da indústria cultural.

E tem gente que vai me dizer que eu preciso sair mais e conhecer pessoas e me distrair. Bem, eu sei disso, eu faço o que posso. Poderia ser um ciclo vicioso o "não tenho amigos pra sair - não saio - não faço amigos para sair", mas eu sou do tipo que vai em cinema e até em balada sozinha e quando não tem nada para fazer, pego um livro e sento em um café dando bandeira. Se eu fizer mais do que isso, vou sair oferecendo abraço no meio do calçadão. E eu não quero um abraço. Eu quero alguém que se importe comigo e que não se irrite de eu ligar de vez em quando para saber se está tudo bem. E, claro, se gostar de séries, cinema e gostar de sair pra comprar esmaltes de vez em quando, melhor.

Sendo sincera, eu não saio tanto assim. Mas aí vem o fato de que eu preciso estudar e trabalhar, como todo ser que não é autótrofo. Talvez um pouco acima da média dos seres não autótrofos, mas ainda assim nada assustador. Ficar em uma sala trancada com uma pilha de trabalho me faz me sentir mais sozinha, óbvio, especialmente quando a pilha de trabalho tem um prazo apertado para ser entregue e eu começo a entrar em pânico.

E hoje, além de entrar em pânico e chorar como uma criança, eu me questionei se valia a pena. E não é o valer a pena do tipo quero jogar tudo para o ar e viver de fazer pipa na praia. É um valer a pena que eu não sentia desde o ápice da fase emo dos meus 14 anos, e que eu sei que tem uma boa dose do Karofsky de Glee, que me deixou toda emocionada ontem.

É aquele momento em você se questiona o para que trabalhar tanto ou pegar tanto trânsito ou chorar tanto no travesseiro. É um momento em que eu vi todos os meus medos e inseguranças, eu vi minhas mãos ficando velhas e eu ainda sozinha, encarei todo o meu incômodo com meu corpo e até a mudança no fim do ano que parece tão perto e tão assustadora. E ver isso tão de perto, refletido nas lágrimas no travesseiro, é denso e pesado e difícil e te faz perguntar para que, afinal, você suporta e luta e acorda todos os dias e continua trabalhando e se esforça para a vida ser melhor dentro e fora do seu quadrado? Para onde eu estou indo, afinal, nesse congestionamento que não acaba nunca e em que ninguém se olha, em que ninguém me olha e me deixa dividir meus medos e minhas pequenas vitórias porque também divide as suas comigo, mesmo que seja só um elogio ao meu vestido.

Eu sei que é extremamente brega e eu tive uma luta interna sobre terminar ou não esse post assim, mas como a imagem que eu não coloquei, eu me sinto meio envergonhada de dizer que tudo o que eu precisava hoje era que alguém realmente se importasse, que me ajudasse a fazer valer a pena, que viesse para o outro lado da grade sem eu precisar pedir ou ligar mais uma vez implorando para ser ouvida, e me dissesse "se você eu pula, eu pulo, Rose".

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