quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Coisa de 5 segundos



Acabo de realizar a grande distância que existe entre 
realmente acreditar que se é bonito 
e acreditar que quem está a sua volta também acredita nisso.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Coisa de 5 segundos

Sandman - Neil Gaiman

Não me lembro de já ter lido um conto de terror brasileiro.
Do tipo sutil, envolvente, aterrorizante e bom.
Acho que eles derretem com o calor, é a única explicação.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Tudo junto separado



Eu sou mulher. Eu sou bissexual. Eu sou gorda. Eu sou alta. Eu sou agnóstica. Eu sou nerd.

Eu poderia dizer que essas definições são rótulos e eu sou muito mais do que tudo isso, e eu não estaria mentindo, mas hoje eu entendo que simplesmente ignorar essas definições é também ignorar as consequências que ser tudo isso traz para mim. 

É irônico pensar que, antes de escrever o parágrafo acima, eu ia comentar algo sobre nunca ter sofrido atos de preconceito devido a essas definições. Mas então eu parei, pensei um pouco, e percebi que isso não é verdade. Muitas vezes as pessoas que me agrediram ou me ofenderam por eu ser o que sou me fizeram acreditar que não era nada, que era normal, que eu não deveria me sentir agredida e ofendida porque ou elas mesmas não estavam cientes do quanto agir assim era ofensivo ou porque a sociedade e minha própria criação diziam que não era. Mas era. 

Esse é o mesmo tipo de dificuldade que eu sinto com relação a me sentir abusada, como eu postei aqui. É um questionamento decorrente para mim, sobre o meu direito de me sentir de certa forma. Às vezes eu acredito que é por eu ser racional demais que eu me permito questionar o meu direito de sentir, às vezes eu culpo a rigidez com que eu fui criada, mas, de certa forma, eu sei que isso é um tipo de agressão. E isso não é bom.

Hoje eu me peguei em um momento de questionamento desse tipo, e foi muito confuso. Eu estava comentando com uma amiga sobre dois sites que eu tenho seguido, twittado e comentado, o Garotas Nerds e o Garotas Geeks, e a minha expectativa era que minha amiga, mulher e nerd como eu, gostasse dos sites. Mas a resposta dela foi que ela não gostava desse tipo de distinção, de "coisas para garotas", e isso me deixou perdida.

Há pouco tempo, eu passei por uma grande crise sobre ser feminina. Entre ser grande e desengonçada demais, ter dificuldade para arrumar roupas e sapatos, não saber me maquiar e ter um histórico de relacionamentos confuso e complicado, eu me vi sem saber o que ser mulher significava. Hoje eu sei que ser mulher está muito além disso, e inclusive ser mulher e ser feminina são conceitos diferentes, e eu consegui encontrar não uma definição, mas um parâmetro muito pessoal para o que eu sou, entre aquilo que a sociedade diz que eu devo ser, aquilo que as pessoas próximas a mim esperam que eu seja e aquilo que eu realmente quero ser. E isso foi muito difícil.

Garotas Nerds e o Garotas Geeks são legais para mim também por isso. Eles trabalham com o conceito de nerd/geek que, mesmo de forma estereotipada, são masculinizados. Mesmo que esse estereótipo não atribua ao nerd uma figura máscula, ainda assim é um homem, e o motivo para isso pode ser encontrado em fatos como a mulher ainda possuir em média uma menor escolaridade que o homem na nossa sociedade ou atividade como ler, jogar videogame, gostar de HQs e filmes de ação serem estimuladas na infância muito mais a meninos do que a meninas, ou mesmo áreas do conhecimento como informática, tecnologia, astronomia, física, matemática e outras associadas à cultura nerd serem ainda exercidas em sua maioria por homens. Por isso ver que o número de mulheres nerds está crescendo é bom, porque significa não só uma quebra do estereótipo como um questionamento social do acesso à cultura e a esse nicho de informações sem distinção de gênero. E, como mulher e como nerd, é bem legal ver elementos femininos, como estampas de sapatos ou tutorial para unhas baseadas nessa cultura.

Diferente da minha amiga, eu não vejo uma distinção de gêneros nesses sites, mas sim uma união. Mas ela me fez questionar se isso era real. Por esse ato de questionamento ou mesmo pelas minhas definições de gênero serem tão recentes para mim, em geral eu sinto que não tenho conhecimento sobre para sequer começar a pensar no assunto, por isso os tópicos de discussão do 6v e blogs como o Minoria é a mãe costumam ser bons refúgios para me fazer pensar e buscar as perguntas certas a serem feitas.

Eu dou aula de redação e, entre tantos outros assuntos, sexismo, sexualidade e educação sexual são temas que eu trabalho em sala de aula. Meus próprios questionamentos me fazem muitas vezes me sentir despreparada para ensinar qualquer coisa a respeito para alguém, mas, ao mesmo tempo, eu sinto que meus alunos, tão jovens e em formação, precisam ser perturbados sobre esses assuntos, para que eles mesmos se questionem e busquem suas próprias respostas, como eu faço. E, em contraponto, eu me pergunto se há realmente alguém suficientemente preparado para ensinar para outras pessoas o que é ser mulher, o que é ser homem, o que é sexualidade e o que é sexo. São conceitos, sim, trazidos fortemente pela sociedades e nos empurrados com uma série de parâmetros de comportamentos aceitáveis ou não. Mas são, por outro lado, conceitos construídos também a partir de experiências pessoais, e embasados sobre o querer de cada um, que pode até ser coincidente com o que impõe a sociedade, e ainda assim há a necessidade de questionar por que isso é imposto.

Eu sou mulher, bissexual, gorda, alta e agnóstica, fruto de uma família e de uma sociedade sexista e cristã, e eu sofro diariamente uma série de agressões por causa disso, seja pelo meu pai que se recusa a lavar a louça que ele mesmo suja, seja pela minha dificuldade de passar pela catraca de um ônibus, seja pelo fato de que eu conheço somente uma única loja em todo o estado de São Paulo onde eu encontro sapatos com lacinhos no meu tamanho para vender, seja pela imposição da minha mãe de eu manter uma bíblia em casa, seja pelo comentário da minha irmã quando eu coloco uma saia mais curta. 

E eu sou nerd. E, ao perceber hoje que isso se trata de um novo grupo minoritário ao qual eu me somo, me fez perceber também como esses grupos minoritários se fundem e se somam. Eu não consigo ser mulher, gorda e nerd, uma coisa de cada vez. Eu sou tudo ao mesmo tempo. O que me leva ao fato de que todos aqueles que são classificados como minorias, se somados, são uma imensa maioria, e que a sociedade deixa de atender a essa imensa massa de pessoas de alguma forma, todos os dias.

Questionar, identificar problemas e agressões, buscar soluções e mudanças é necessário, e eu acredito que cada um tenha suas próprias necessidades e diretrizes. E muitas vezes separar tanto em grupos e conceitos só cria mais restrições e distâncias.

E pode ser que eu esteja errada, mas é no que eu acredito hoje.

sábado, 21 de abril de 2012

Fechando Ciclos

"É o que as pessoas dizem:
que o tempo muda tudo.
Não é verdade.
Fazer coisas é o que muda algo.
Não fazer nada deixa as coisas do jeito que eram."
Dr. House

Eu postei essa frase hoje mais cedo no facebook. Eu concordo plenamente com ela, por isso postei, mas quando eu postei essa frase eu não tinha ideia do quanto eu concordo com ela. Aí alguma coisa aconteceu e provocou uma mudança, e eu me dei conta do quanto tudo mudou.

Há sete anos atrás, em fevereiro de 2005, eu havia acabado de passar no vestibular, eu estava com 18 anos, saindo da casa dos meus pais para morar sozinha em uma cidade em que eu não conhecia ninguém além de uma tia distante. Eu estava respirando fundo para começar um novo estágio da minha vida em que eu pensava que tudo iria mudar.

No começo, foi meio decepcionante. Eu queria tanto que a forma como as pessoas me viam mudasse, que a minha forma de me relacionar com os outros mudasse, que a minha vida em seus detalhes e ritmo e problemas e soluções mudasse que eu demorei para perceber que para que tudo isso mudasse EU tinha que mudar. Bem, eu mudei. De uma forma lenta, mas determinante. 

Bauru me fez adulta de uma forma que vai além de pagar as próprias contas e cuidar do próprio nariz. Eu fiquei sozinha e tive que aprender a lidar comigo mesma, a me conhecer e a gostar de mim. Eu tive que aprender a conquistar as coisas de que eu precisava e a lidar com os mais diversos tipos de pessoas para conseguir isso. Eu me machuquei de inúmeras formas diferentes e Bauru me fez dura e me fez me descobrir todas as minhas fragilidades ao mesmo tempo. Bauru me ensinou a ser profissional, a ser amiga e a ser mulher.

Bauru foi o lugar onde eu descobri que minha casa não era mais São Paulo, mas eu também sempre soube que minha casa não seria aqui. Desde dezembro do ano passado eu venho namorando a ideia, cada vez mais concreta, de que eu deixaria Bauru em 2012 ainda. Inicialmente em dezembro, depois em setembro, agora parece ser agosto, mas a data definitiva só devo ter em junho ou julho. Mas eu vou me mudar, vou para um outro lugar, com uma outra vida e talvez um outro eu me esperando lá. E deixar Bauru não é difícil, é mais difícil deixar a Unesp ou simplesmente mudar, porque mudar é muito difícil.

E aí, neste momento em que eu estou tentando me acostumar com a ideia de mudança de local e de vida, eu encontro uma coisa que eu desejei fortemente desde o primeiro momento em que me vi livre em Bauru, mas que ela se recusou a me dar nesses 7 anos: alguém de quem eu estava gostando e que gostava de mim.

Desde o momento que essa consciência se fez, eu coloquei sobre ela o fato de que nada iria acontecer porque eu estava fazendo as malas para ir embora daqui, eu não iria mudar meus planos por ninguém e certamente essa pessoa não iria me acompanhar em tão pouco tempo. Talvez, se não houvesse essa pedra, eu teria vivido isso de uma forma muito mais intensa e desesperada. Talvez desesperada o suficiente para não viver e me negar isso como eu me neguei tantas outras coisas por ter me tornado adulta demais ou dura demais em meio a essas mudanças. Mas, de certa forma, a certeza de que não aconteceria me permitiu aproveitar enquanto durou. E acabou, como eu sabia que acabaria mais cedo ou mais tarde desde o começo.

E agora eu paro para pensar no que foi isso, e foi algo tão rápido, tão sutil e tão tenso que eu quase não consigo acreditar no quão importante foi para mim. Essa pessoa era tudo o que Bauru não era, ela resgatou uma parte de mim que eu esqueci que existia no processo de me tornar adulta, um quê de adolescência, de vestibular, de rock'n'roll, de inocência e de doçura a que eu simplesmente não estava mais acostumada ou simplesmente não me lembrava mais do quanto eu gostava disso tudo.

Foi um resgate de quem eu era antes de vir para Bauru no momento em que eu estou deixando Bauru. Em nenhum momento houve a nostalgia de voltar a ser adolescente, mas houve a percepção do quanto de juvenil eu ainda tenho e do quanto eu envelheci nestes 7 anos. Foi a percepção do quanto sobrou no que eu sou hoje do que eu era quando cheguei aqui, do quanto eu não neguei ou perdi pelo caminho.

Eu me sinto fechando um elo. Unindo aquilo que eu era antes de chegar aqui com aquilo que eu sou no momento em que deixo esse lugar para começar algo novo. Eu me sinto completa como eu nunca me senti em toda a minha vida. Eu tenho uma consciência imensa de todas as feridas abertas que estou levando comigo de Bauru, mas pela primeira vez na minha vida eu não me sinto levando nenhum arrependimento.

Ainda faltam alguns meses até que eu mude, e muita coisa pode acontecer nesse tempo que venha a mudar tudo novamente, mas Bauru, este lugar e este momento e esta pessoa que surgiu dela, está se configurando como uma etapa concluída para mim a partir de agora.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

I like you


Eu estou gostando de alguém, e isso é estranho em tantos níveis que precisei vir aqui pensar um pouco.

Eu não sou muito crédula com essa coisa de paixão e amor e primeira vista e zamos morrer juntos porque meu mundo é você. Em geral isso me embrulha o estômago e/ou me faz rolar os olhos e/ou me dá crise de risos, apesar de eu tentar ao máximo não ter esse tipo de reação perto das pessoas queridas e apaixonadas.

E você que lê esse blog com frequência acaba de ficar com uma cara de MAS Q gigante porque, afinal, eu passo boa parte dos meus posts dizendo sobre o quanto eu queria alguém que gostasse de mim e alguém para ser companheiro e me fazer feliz e panz. Como, afinal, se eu nem acredito nisso, não é mesmo? Pois é, eu disse que é estranho. 

Mas, assim, eu acredito que as pessoas em geral precisam dividir suas vidas com alguém em que elas confiem e se sintam bem por ter sempre junto a elas. E, como eu me encaixo na categoria pessoas, eu sinto falta de alguém assim. Eu só não acredito muito na dinâmica do processo que leva duas pessoas a isso. Essa coisa mágica de olhar para alguém e querer conversar para sempre com ele/ela sem saber direito o que dizer e colocar em um potinho na estante só para ficar olhando sendo que há quase pânico misturado com ansiedade na ideia de tocar a outra pessoa.

Eu nunca me apaixonei. Eu nunca gostei de alguém com esse nível de ansiedade e sem jeito de agir. Com toda essa ciência da pessoa como um todo e todo esse querer o outro das mais diversas formas. E eu posso rir dos seres patéticos aí pelo mundo, mas eu desejei isso. E, mesmo por nunca ter sentido nada assim, eu não sei dizer se estou apaixonada no conceito intrínseco da palavra (seja lá qual for), mas o que eu estou sentindo agora é bem legal.

Porque eu estou gostando de alguém, e isso é muito estranho, porque quando eu paro para pensar em tudo o que eu sei sobre essa pessoa e analiso toda a situação e contexto, tem tantas coisas erradas que eu simplesmente não consigo entender o porquê eu gosto dele, isso não deveria estar acontecendo. E aí eu começo a rir pateticamente porque, olha só que coisa, acabo de perder mais uma hora sem perceber só pensando em tudo o que me faz gostar dele.

E o engraçado é que não sou só eu nessa situação. Meu melhor amigo também está em um inferno astral por gostar de alguém que racionalmente não deveria e uma grande amiga passou dois dias comigo sem conseguir parar de falar um momento na pessoa de quem ela não entende porquê se dá ao trabalho de tentar ficar junto. E, claro, eu ando rindo ironicamente lembrando do momento em que eu conheci o ex da minha melhor amiga e meu comentário foi "Eu esperava mais dele." porque eu simplesmente não conseguia entender como diabos eles ficavam juntos.

Eu sinceramente não consigo entender o que leva uma pessoa a gostar de outra. Eu gosto de pessoas, eu trabalho com pessoas, eu me orgulho de ter uma certa habilidade de ler e entender pessoas, de conseguir me aproximar de pessoas, e eu desejo a companhia de pessoas, essa proximidade e essa troca. Mas gostar de alguém me surpreendeu, não porque eu não esperava gostar de uma pessoa (eu ansiei muito por isso), mas sim porque quando eu me dei conta de quem era e do quanto eu já estava gostando, eu não vi lógica.

E eu poderia encher esse post de frases clichês que eu ouvi minha vida inteira como "o amor não tem lógica" e "você não pode controlar gostar de alguém" e "você não escolhe quem vai amar" e concluir que, olha só, é mesmo, no fim eu quebrei a cara. E ai vem o fato de que eu acho isso patético. Eu não vou negar o que eu estou sentindo em prol de um racionalismo ou uma crença ou o que for, mas me recuso a fazer disso algo pleno e absoluto na minha vida - ainda que eu tenha gastado um tempo gigantesco pensando sobre o tema e, obviamente, a pessoa que me levou a isso. E me recuso a dizer que estou amando ou apaixonada porque, bem, eu ainda espero mais disso, então mesmo se eu já estiver, eu me permito reformular esses conceitos para o que eles significam para mim. O sentimento é meu, eu chamo ele do que eu quiser.

Eu sempre tive a consciência de que gostar de alguém de forma plena e completa seria gostar de tudo o que a pessoa tem de bom e de ruim, mas também acreditava que isso de ter que rever conceitos e valores e ações que me nortearam toda a vida só porque alguém cruzou meu caminho e piscou para mim e eu gostei fosse coisa de novela - e eu detesto novela. E então eu percebi que gostar de alguém é infinitamente mais complexo do que eu jamais ousei imaginar. 

Passa, sim, pelo racional - e isso pode ser uma característica minha, mas consequentemente vai ser de quem gostar de mim também, pela força que tem para mim -, mas é um sentimento, acima de tudo, e isso pode soar redundante, mas sentimentos não são racionais e toda a minha dificuldade neste momento está sendo traduzir isso, porque enquanto uma parte de mim disser que eu estou sendo patética por gostar dele, eu não vou conseguir sentir isso de forma completa e não vou conseguir gostar dele por tudo o que ele realmente é. E eu sei que ele merece mais do que alguém que não sabe o que sente. E eu sei que eu mereço viver isso, seja lá o que for.

Mas por que, afinal, eu estou gostando dele?

sábado, 31 de março de 2012

Little secrets



Esse texto não está disponível para todo mundo. Eu coloquei ele no fórum porque ele diz respeito a pessoas que não estão lá e, portanto, as pessoas que lerem isso não saberão de quem se trata, o segredo continua guardado. Por outro lado, muitos dos meu amigos estão lá. Eu somente coloquei o link aqui porque é um registro de como eu me sinto neste momento. Esses links se perdem fácil no fluxo de posts do fórum e achei importante tê-lo aqui como um marco.

*
Edit em 14 de maio de 2012

Bem, eu me afastei um pouco do fórum onde essa postagem foi feita, a situação das pessoas envolvidas mudou um pouco e eu fiquei mais confortável com tudo o que eu escrevi o suficiente para expor aqui o texto completo. Eu só peço respeito por tudo isso, porque, afinal, não deixa de ser... pessoal demais.

Abuso Sexual
Antes de mais nada, avisar que esse post é muito mais desabafo do que debate. Eu pensei em postar no meu blog, mas eu senti que seria me expor demais e envolve terceiros que poderiam vir a ler isso, e não seria legal, e eu só não postei no D&D porque achei que as pessoas que poderiam lê-lo aqui de certa forma já saberiam o que ele contém e estariam mais dispostas.

Ontem uma amiga do mestrado me mandou um email pedindo ajuda porque ela está envolvida com um cara há mais de 3 anos e não conseguem desempatar o relacionamento porque ele tem medo de compromisso. Na quinta, ele contou para ela, meio que como quem não quer nada (no meio de uma conversa, ele citou o assunto, ela ficou chocada, ele disse que achava que já tinha contado para ela) que ele sofreu abuso sexual dos 6 aos 16 anos, praticado por um tio com quem ele convive até hoje. Ele tem 30 anos.

O que foi esse abuso não ficou claro, não sei o que ele falou exatamente para ela, mas ela traduziu para mim como uma "tentativa de abuso", e me perturbou o fato de uma tentativa de qualquer coisa durar 10 anos, e eu não sei se ela tentou amenizar para mim ou ele tentou amenizar para ela ou uma das duas partes ainda não está entendendo direito o que aconteceu. Ou eu não estou entendendo.

Ela não sabia como reagir e veio me pedir conselhos. Eu analisei a questão como alguém de fora para ela, dei conselhos, ela se sentiu melhor, eles estão conversando, ele está muito mal, mas acho que tudo isso é um processo que precisa ser resolvido entre eles. Quanto a mim, me restou o fato de que eu fui completamente tragada pelo assunto depois disso.

Inicialmente eu me senti mal porque não me via no direito de analisar a vida de alguém dessa forma, sem nem saber ao certo o que tinha acontecido. Eu escrevo muita fanfiction sobre o tema, mas é completamente diferente você prever como um personagem se sentiria nessa situação e as infinitas possibilidades de reação de uma pessoa real frente a isso. É muito delicado e de uma responsabilidade muito grande virar para ela e dizer "faça isso, diga aquilo, aja dessa forma, que vai fazer ele se sentir melhor". Não dá. E eu acho que ajudei, mas ainda estou incomodada e torcendo por eles.

Meu segundo movimento foi tentar me livrar de tudo o que isso me provocou e tudo o que me fez pensar de alguma forma. Eu tive um plot, eu transpus a situação real para uma ficcional, eu coloquei tudo em um universo que eu posso controlar, e eu teria escrito a fic no mesmo momento só para me sentir aliviada, mas eu não quis. Acabei mudando o plot, tirando a questão sexual, e ainda assim é um bom plot que eu vou escrever um dia, mas não hoje.

Minha terceira reação foi tentar saber mais. Eu queria achar um post da Diana aqui no fórum em que ela coloca um link para uma carta que ela escreveu, contando a história dela, e eu dizia para mim que eu queria mandar esse link para a minha amiga, mas acho que, de certa forma, eu mesma estou precisando reler essa carta. Mas não achei. Achei o link para o Unbreakable aqui e olhei o tumblr inteiro, quase chorando. E quando a Dark, com quem eu estava conversando no msn, veio me perguntar o que eu estava fazendo porque eu estava quieta, eu percebi que eu havia mergulhado nisso totalmente e que isso não era bom, porque eu tenho outras coisas para fazer e coisas mais importantes em que pensar e isso não deveria me monopolizar tanto ou me afetar tanto. 

E o fato de me monopolizar tanto e me afetar tanto me incomodou, porque não é a primeira vez que isso acontece. Em geral, qualquer caso que eu vejo sobre esse tema, sobre abuso, exploração sexual, pedofilia, me afeta imensamente, me tira muito do eixo e me faz pensar sobre mim em um ponto em que eu me perco fácil, porque tudo parece nebuloso e incerto e se resume a "não sei".

Eu não sei se eu já sofri abuso. 

Eu fui beijada a força duas vezes, aos 16 e aos 19 anos, as duas vezes por professores, homens muito mais velhos e figuras de autoridade para mim, de quem eu simplesmente não esperava isso. E foram dois beijos consecutivos - entre um e outro eu não fiquei com ninguém, o que eu acho que intensifica o fato. Mas o que mais me marca nisso é eu pensar nessas duas épocas específicas e ver o quanto eu era inocente. O quanto eu não soube como reagir, o quanto eu simplesmente virei as costas e corri, o quanto eu tive medo ao mesmo tempo em que eu me senti desejada de forma inusitada, o quanto isso era conflituoso porque eu ainda ficava envergonhada com brincadeiras de colegas com conteúdo sexual porque eu não conhecia minha própria sexualidade e o quanto esses dois beijos foram imensamente significativos e ao mesmo tempo imediatamente descartados quando eu faço minha lista de "experiências" simplesmente por eu não querer. Eu não queria. Não aconteceu pela minha vontade. Mas aconteceu e me marcou por isso, mesmo sendo só um beijo. E hoje, com o esclarecimento que eu tenho, com a maturidade que eu tenho, eu consigo me questionar se esse "foi só um beijo, não foi um abuso" na verdade é fruto dessa sociedade, mas o beijo foi comigo, e eu sou fruto dessa sociedade, então eu ainda estou confusa o suficiente para dizer que eu não sei se foi um abuso.

Meu próximo beijo depois desses foi legal. Foi com um mocinho em uma festa e foi consensual e bom e ele me deixou toda marcada, mas eu gostei. Dois meses depois, eu encontrei o mesmo mocinho em outra festa e eu queria mais, e nós saímos e começamos a nos pegar em um estacionamento fechado. Nós nos falamos bem pouco nesse processo todo e as coisas simplesmente foram acontecendo. Eu lembro de ter tocado nele por dentro da calça e ele fez o mesmo comigo e eu estava curtindo, mas ao mesmo tempo imensamente incomodada de estar com um estranho em um lugar como aquele fazendo algo tão íntimo. Eu não confiava nele o suficiente para chamar para ir para minha casa - eu não tinha dinheiro para nenhuma outra opção na época -, mas também não queria parar. Ele disse que queria transar comigo, eu estava consciente que nós já estávamos na metade do caminho para isso acontecer, mas eu era virgem, eu não queria que fosse daquela forma, eu nem tinha certeza se queria que fosse com ele, e eu disse não. No segundo seguinte, ele tinha mais força do que eu jamais imaginei que ele teria, e me prendia contra a parede, e o toque que até um momento atrás era bom, estava agora me machucando, e eu pedi para ele parar e ele não parou e eu entrei em pânico e disse que ok, a gente faria, mas precisávamos de camisinha. Ele disse que sim, que ia comprar, que era para eu esperar ali.

Essa é uma parte da história que eu nunca contei para ninguém, nem para minhas amigas que me ajudaram nos dias seguintes, nem para o médico que me examinou, nem para a minha psicóloga, mas neste momento ela me soa imensamente importante: eu esperei. Por menos de dois minutos, eu acho, mas eu estava pensando em tanta coisa naquele momento que eu simplesmente continuei ali até que um mendigo passasse e me dissesse qualquer coisa que me assustou e me fez começar a caminhar de volta para a festa, procurando um lugar mais movimentado. Nesse minuto, eu pensei que eu estava gostando antes de ele começar a ser um filho da puta e que talvez não fosse uma ideia tão ruim, que talvez não fosse a intensão dele me forçar, já que ele tinha simplesmente pedido para que eu esperasse, sem me obrigar a ficar ali, que talvez fosse eu quem estava sendo filha da puta com ele, já que eu tinha ido tão longe e agora simplesmente não queria ir até o fim.

Um amigo meu me encontrou, eu estava tremendo, ele perguntou o que estava acontecendo, eu pedi para ele me levar para casa, ele me levou, tentando conversar comigo no caminho, dizendo que a festa inteira era só um ritual social estúpido, e eu concordei com ele. Eu tive febre por duas semanas depois disso, mas não tive coragem de contar para nenhum dos dois médicos que eu procurei o que tinha feito. Muito tempo depois, eu admiti que eu demorei muito para entender o que tinha acontecido ali, e a Diana me disse que havia percebido isso desde o primeiro momento em que eu contei a história para ela. Assim como eu sinto que o namorado da minha amiga - ou a minha amiga - também não está entendendo o que aconteceu com ele.

O que veio antes desses 3 casos foi um primeiro beijo infeliz aos 15 anos, marcado por desencontros entre casais em que ninguém estava satisfeito com o final da noite. O que veio depois foi uma série de aventuras desesperadas com estranhos, impulsionadas por baixa auto estima e necessidade de provar algo, entre as quais minha virgindade se perdeu de forma muito diferente do que um dia eu ousei imaginar, e muito dinheiro gasto com vibradores para me manter sã e longe de problemas. Eu demorei para descobrir que sentia prazer, tenho dificuldades de lidar com meu corpo até hoje e ainda prefiro fazer isso sozinha porque tenho a impressão de que quando tiver que compartilhar isso com outra pessoa vai ser muito mais tenso e complicado.

Assim como o namorado da minha amiga, eu tenho problemas com relacionamentos. Eu nunca tive um e não estou perto de ter quando minha primeira resposta a qualquer tipo de aproximação é sempre "não" e eu preciso de muito esforço consciente para deixar que alguém se aproxime, e mais ainda para acreditar que esse alguém realmente gosta de mim. Neste exato momento, eu estou vivendo uma paixonite por um aluno (eu só não me permito me apaixonar de vez porque ele é meu aluno), e chego até a brincar de vez em quando sobre possibilidades de fazer ele perceber isso, mas pesa um forte sentimento de que eu não tenho chances, mesmo com toda a fleuma de ser "a professora ~~COOL~~" me ajudando.

Eu demorei muito tempo para ver o que aconteceu comigo como abuso e, mesmo hoje - literalmente hoje -, olhando o Unbreakable, eu não me sinto muito digna de dizer isso. Parece ao mesmo tempo que eu desvalorizo a dor do outro ou supervalorizo o que eu passei - porque, de alguma forma, mesmo vendo o quanto me afeta ainda, eu tenho tendência a pensar que foi só um beijo de um idiota e depois outro e depois um filho da puta que cruzou meu caminho e me deixou confusa, e depois uma série de merdas que eu fiz. Mas quando, em dias como hoje, algo vem e bate com o tema na minha cara de forma que eu não consigo pensar sobre outra coisa, eu fico perdida no que eu sinto, em todas as fics que eu já escrevi com prostituição e abuso, eu me pergunto o quanto de mim tem ali sem que eu nem percebesse, ou às vezes negando, e se eu tenho o direito de parar tudo o que eu preciso fazer hoje para deitar na minha cama e ficar simplesmente quieta alguns minutos, para tentar parar de pensar sobre isso. Só um pouco. Por que eu sinto que eu não sei mais nada.

*

domingo, 11 de março de 2012

Não está valendo a pena

Essa postagem não tem imagem porque a melhor imagem que eu consegui pensar pra ela foi aquela cena de Titanic da Rose do lado de fora do navio e o Jack "se você pula, eu pulo". E, tipo, não.

Eu estava me sentindo sozinha. Isso basicamente todo mundo que lê o que eu posto aqui já sabe, 90% do que me leva a postar é estar no limite de certa forma e o principal fator que me leva a limites é me sentir sozinha. Mas, enfim, hoje eu estou me sentindo muito sozinha a ponto de estar deitada tentando dormir e começar a chorar, chorar de soluçar, e milhões de pensamentos, que iam do trânsito de São Paulo a Titanic e concluir que não vale a pena. Não está valendo a pena, simples assim. E eu vim escrever, porque eu preciso organizar e entender isso, simplesmente porque não é algo bom de se sentir.

Outro dia, nos dias de carnaval, eu estava em São Paulo, presa em um trânsito infernal na entrada da cidade, meio impaciente porque eu já tinha enfrentado mais de 4h de viagem e tudo o que eu queria era simplesmente chegar a algum lugar. Como o dom da ansiedade é te impedir de fazer qualquer coisa que te distraia do que te deixa ansioso, eu fiquei prestando atenção no trânsito. Na quantidade imensa de pessoas que estava ali, acumuladas naquele trecho de rua, querendo e ansiando fervorosamente pela mesma coisa, como uma imensa entidade formada por várias partes distintas que simplesmente não tinham consciência umas das outras.

Foi meio revelador, sério. Mas foi exatamente isso: a consciência do todo humano. De que, puta merda, olha quantas pessoas tem nesse mundo! E elas vivem e se trombam e trabalham em função umas das outras, e se cuidam e se amam e fazem o mundo funcionar pensando em fazer coisas boas para pessoas de quem gostam ou para si mesmas. TUDO acontece a partir, em torno e para pessoas. E elas não se percebem, não se tocam, não se veem, simplesmente fazem parte do seu quadrado, sem a dimensão exata do que isso significa.

Tanta gente no mundo, e eu ali me sentindo sozinha. E não é por falta de gente no meu quadrado. Eu tenho amigos. Tenho amigos no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Recife, em Holambra, até em Bauru. Mas não tenho amigos para ligar de madrugada ou para ir ao cinema ou mesmo para quem eu possa preparar um almoço e chamar para tomar um vinho ou um café e falar um pouco sobre como eu me sinto bem com eles ou o que eu acho de Titanic ou sobre como a questão do bulling é tratada em Glee e como isso me afetou imensamente nessa semana. Ou mostrar meu vestido novo.

Não é que eu precise de alguém para mostrar meu vestido novo para ser feliz. Mas quando a coisa que te deixa mais feliz em toda a maldita semana é o vestido que você mal consegue pagar, é meio frustrante, sabe? Você pára e fica se perguntando o que realmente isso significa, pois, apesar do vestido ser lindo e você se sentir muito bem nele, é só um vestido. É só um trecho de um livro. É só uma cor nova nas suas unhas. É só um fim de série dramático que te faz chorar feliz.

Séries bobas tem me feito chorar. Comédias românticas bobas já me fazem chorar há anos, tanto que eu não assisto mais, mas quando um episódio de New Girl me fez chorar, eu achei a gota d'agua. Por que de repente tudo o que eu assisto inclui um grupo de amigos legais que, mesmo quando ta tudo indo por água abaixo, fazem a situação menos pior? Sim, eu sei que é pelo motivo que eu achei no trânsito e panz.

Quando eu parei de assistir comédias românticas porque eu queria um namorado e não tinha - naõ tenho -, eu lembro que tive uma longa e alien conversa com minha madrinha sobre o ideal de amor ser uma criação da indústria cultural e não existir de verdade. Eu conclui que eu preciso acreditar que existe, pelo bem da minha pele, mas hoje eu me vi questionando se grupos de amigos legais também não são criação da indústria cultural.

E tem gente que vai me dizer que eu preciso sair mais e conhecer pessoas e me distrair. Bem, eu sei disso, eu faço o que posso. Poderia ser um ciclo vicioso o "não tenho amigos pra sair - não saio - não faço amigos para sair", mas eu sou do tipo que vai em cinema e até em balada sozinha e quando não tem nada para fazer, pego um livro e sento em um café dando bandeira. Se eu fizer mais do que isso, vou sair oferecendo abraço no meio do calçadão. E eu não quero um abraço. Eu quero alguém que se importe comigo e que não se irrite de eu ligar de vez em quando para saber se está tudo bem. E, claro, se gostar de séries, cinema e gostar de sair pra comprar esmaltes de vez em quando, melhor.

Sendo sincera, eu não saio tanto assim. Mas aí vem o fato de que eu preciso estudar e trabalhar, como todo ser que não é autótrofo. Talvez um pouco acima da média dos seres não autótrofos, mas ainda assim nada assustador. Ficar em uma sala trancada com uma pilha de trabalho me faz me sentir mais sozinha, óbvio, especialmente quando a pilha de trabalho tem um prazo apertado para ser entregue e eu começo a entrar em pânico.

E hoje, além de entrar em pânico e chorar como uma criança, eu me questionei se valia a pena. E não é o valer a pena do tipo quero jogar tudo para o ar e viver de fazer pipa na praia. É um valer a pena que eu não sentia desde o ápice da fase emo dos meus 14 anos, e que eu sei que tem uma boa dose do Karofsky de Glee, que me deixou toda emocionada ontem.

É aquele momento em você se questiona o para que trabalhar tanto ou pegar tanto trânsito ou chorar tanto no travesseiro. É um momento em que eu vi todos os meus medos e inseguranças, eu vi minhas mãos ficando velhas e eu ainda sozinha, encarei todo o meu incômodo com meu corpo e até a mudança no fim do ano que parece tão perto e tão assustadora. E ver isso tão de perto, refletido nas lágrimas no travesseiro, é denso e pesado e difícil e te faz perguntar para que, afinal, você suporta e luta e acorda todos os dias e continua trabalhando e se esforça para a vida ser melhor dentro e fora do seu quadrado? Para onde eu estou indo, afinal, nesse congestionamento que não acaba nunca e em que ninguém se olha, em que ninguém me olha e me deixa dividir meus medos e minhas pequenas vitórias porque também divide as suas comigo, mesmo que seja só um elogio ao meu vestido.

Eu sei que é extremamente brega e eu tive uma luta interna sobre terminar ou não esse post assim, mas como a imagem que eu não coloquei, eu me sinto meio envergonhada de dizer que tudo o que eu precisava hoje era que alguém realmente se importasse, que me ajudasse a fazer valer a pena, que viesse para o outro lado da grade sem eu precisar pedir ou ligar mais uma vez implorando para ser ouvida, e me dissesse "se você eu pula, eu pulo, Rose".

sexta-feira, 2 de março de 2012

Toda Sarah é princesa



Eu ando ficando muito tempo em casa. Muito trabalho para fazer, processo de finalização do mestrado, todos os amigos morando longe, pouco dinheiro no bolso. Mas isso anda me deixando um pouco tensa. Passar dias sem ver ninguém de carne e osso além do meu vizinho pela janela ou sem falar com ninguém a não ser por telefone ou msn é, de uma certa forma estranha, desgastante. Eu não consigo explicar, mas acredito que seja algo fácil de entender esse stress por falta de convivência e sociabilização.

Além disso tudo, trabalhar em casa pode ser muito confortável, mas, principalmente para mim que moro sozinha, às vezes te faz esquecer coisas simples, como por exemplo o quão importante é tirar o pijama e que pentear o cabelo é algo legal, mesmo que você se descabele na frente do computador algum tempo depois.

Semana que vem eu volto a dar aulas e estou esperando ansiosamente por isso, pelo trabalho, pelo dinheiro e por sair de casa para fazer alguma coisa, mesmo que seja trabalhar. Ter um compromisso com alguém além de mim mesma, ver e conversar com pessoas diferentes. O máximo de compromisso que eu tenho hoje é ir à psicóloga uma vez por semana para falar principalmente sobre o quanto eu me sinto sozinha, entre outras coisas.

Hoje eu acordei inspirada. Coloquei um vestido de que eu gosto bastante e me deixa confortável, arrumei o cabelo de um jeito especial que aprendi a dar no corte novo, um tom meio retrô e bonequinha, bom de se usar com tiara. Me maquiei, tentei novas cores e uma técnica que vi nessa semana na internet que estava louca para usar, e coloquei sandálias, coisa que é raro eu usar. Estava me sentindo muito bem e bonita. E quando minha vizinha me viu saindo e comentou que hoje eu arrumaria um namorado, eu sorri, mas fiquei um pouco triste, porque me produzi toda para ir ao lugar menos provável de se arrumar um namorado. Bem que eu pensei em ir ao cinema depois da consulta ou a uma balada de noite, mas o fim do mês não me permite.

Estava chovendo. Eu disse para mim mesma, para meu vestido, minha maquiagem e minha sandália, que isso não seria um problema e saí. Mas estava chovendo muito e eu não cheguei nem na esquina sem que meu guarda chuva virasse do avesso e eu acabasse molhada. Estava atrasada para pegar o ônibus e, naquele passo, era certo que eu não ia conseguir. Voltei para casa, me sequei e chamei um táxi.

Obviamente eu não tinha dinheiro para o táxi. Chamei um taxista amigo, que vive me dando desconto e algumas cantadas, e aceita cartão. Eu não curto muito as cantadas, mas os descontos são bons e era a única forma de eu chegar a tempo na consulta a essa altura do campeonato. Pedi para ele passar em casa meia hora antes. Dez minutos antes ele não havia chegado. Eu liguei para ele, ele não poderia vir, e não se preocupou em me avisar com antecedência. Eu liguei para outro taxista, mas quando perguntei se ele aceitava cartão, ele riu no telefone, então simplesmente liguei para a psicologa e disse que não poderia ir hoje. O fato de que vou ter que pagar pela consulta mesmo assim me deixou meio puta com o mundo.

Sarah é um nome de origem bíblica que significa A Soberana, ou simplesmente Princesa. Quando eu era pequena, adorava andar por aí segurando as pontas da saia e saltitando e meus pais reclamam até hoje sobre a minha capacidade de ser fresca com certas coisas. Eu gosto do meu nome. Sei que não sou nenhuma princesa, ou ao menos não me entregaram meu reino e meu príncipe ainda, mas acredito que tem muito de ser Sarah em mim em dias como esse.

E, no entanto, o dia terminou, e eu nem consegui sair da minha abóbora.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Hoje eu chorei por você


Hoje eu chorei por você, e foi estranho.


Eu não estava pensando em você. Estava pensando em sexo e eu nunca pensei em você + sexo e nunca fantasiei com você. Há algum tempo, eu pensava em te beijar e queria que você me visse como mais que amiga, mas nunca passou disso. Estar com você nunca foi muito concreto ou possível e eu entendi há algum tempo que nunca seria.
Mas aqui estava eu, em um momento só meu, ao qual você nunca pertenceu, pensando em você. Pareciam duas coisas paralelas e não correlacionadas o que eu estava sentindo no momento e a lembrança de quando você me negou o único gesto de carinho que um dia eu te pedi. Eu chamava nomes de pessoas que eu não conheço buscando qualquer prazer enquanto entendia que você nunca me daria isso, a ideia parecendo cada vez mais absurda conforme a dimensão do quanto você sempre esteve distante se fazia mais nítida.
A percepção do quanto eu nunca te terei me veio em meio a um orgasmo e eu chorei por você.
Na verdade, eu percebi que estava chorando de repente, quando tudo acabou, e me perguntei assustada por que eu estava chorando. E foi assim que eu segui a trilha dos meus pensamentos ao contrário e encontrei você. Eu não tinha ideia da força do que eu sentia por você até esse momento.
Você tem que admitir que é uma cena forte e bonita. Eu escreveria uma fic foda com ela, cheguei até a pensar no plot. Harry e Draco em NC com o Harry chorando e o Draco sabendo que aquilo significa que ele estava se despedindo da última lembrança de alguém que ele amou muito. A fic terminaria em uma cena de carinho e compreensão entre os dois, provavelmente a pessoa que o Harry amou estaria morta - eu escolheria um personagem de que você gosta, provavelmente - e daria uma dimensão do quanto ele estava livre para ser feliz e continuar junto do Draco.
Mas eu estava sozinha, e isso só aumentou minhas lágrimas. Minha vida não é tão dramática quanto a de Harry Potter, mas esse sentimento e a intensidade deste momento são meus e dessa vez eu não quis me livrar disso escrevendo uma fanfiction que eu até poderia te mandar o link para ler. Ver você lendo sobre isso sem ter ideia do que significa não me machucaria, acho até que seria uma boa despedida dessas lágrimas saber que elas chegaram, de alguma forma, até você. Acho, inclusive, que é por isso que estou escrevendo sobre algo tão íntimo, para ver esse sentimento se concretizar e me deixar de alguma forma.
Minhas lágrimas secaram enquanto eu percebia que você era minha angústia no peito, não meu prazer. E acho que isso, mais do que tudo, me deu a dimensão do quanto o que eu já senti por você nunca vai ser.
E acho que isso foi determinante para que essa primeira vez que eu chorei por você seja também a última.

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